quarta-feira, 30 de julho de 2008

Lembranças e a realidade que se tranforma...

Lembro-me perfeitamente dos meus finais de semana junto aos meus pais e meu irmão. Aos sábados íamos ao Mappin ou a Mesbla. Minha mãe comprava utensílios domésticos, meu pai ferramentas de consertos gerais, meu irmão carrinhos semi-automáticos (na época eram carrinhos controlados com controles de fio) e eu bonecas e partes da casinha que eu montava aos poucos.
Depois almoçávamos em um restaurante próximo ao Metro Anhangabaú. Em seguida, passeávamos pelos prédios e monumetos históricos. Na época, as fontes do Vale Anhagabaú ainda funcionavam. Era lindo! Realmente, havia um cuidado maior com o centro da cidade.

Hoje, é uma lástima passar por ali. O cheiro de urina e falta de limpeza é insuportável, há mendigos, pedintes por todos os lados. É triste perceber que os governantes pouco se importam com a história da cidade que administram.

Por falar em mendingo, vou chegar ao ponto onde quero. Nestes passeios de fim de semana, utilizávamos o transporte público (ônibus e metrô). Há 15 anos o transporte era razoavelmente bom. Ônibus, eram ônibus de verdade, não micro-ônibus e lotações intitulados como ônibus. O Metrô não ficava lotado e não haviam filas nas catracas.
Usávamos o transporte público não por prazer, mas por falta de opção. Meu pai não tinha condições de adquirir um carro. E nem por isso, deixei de passear e conhecer boa parte da cidade ao lado deles. Quando retornávamos destes passeios, ficávamos esperando o ônibus na fila, quando um rapaz chegava perto com sua carroça, oferecendo salgadinhos, balas e chocolates. Como de costume, meu pai sempre comprava alguma coisa. A intenção, no fundo era ajudar aquele rapaz que lutava todos os dias para colocar o pão dentro de casa. E assim, passaram-se 15 anos. Hoje, este mesmo rapaz vive na solidão, no abandono, doente e inválido. Há 3 anos sofreu um derrame e com sacrifício, vende seus produtos sentado, em frente a fila do ônibus. Mal consegue falar. De longe lembra aquele homem cheio de saúde, de voz alta e simpática.

Semana retrasada, estava na fila mais uma vez, esperando ansiosamente por entrar na lotação pra chegar em casa, tirar os sapatos e tomar um bom banho, quando ele chegou perto de mim e pediu dinheiro para comprar o remédio que ele toma devido ao tratamento. (Esta situação repete-se há mais de 1 ano). Dei o que podia e então, de repente ouço um barulho e olho pra trás. Lá estava ele, caído sobre a prateleira e os poucos produtos que tinha ainda pra vender. Não conseguiu se mover. Foi ajudado a se levantar. Na verdade, ele estava caindo de bêbado.

Aquela cena mexeu comigo. Um filme passou na minha cabeça. Fiquei pensando se a situação seria diferente se ele tivesse família, amigos que poderiam cuidar dele. Pensei também no fato de que ele lutou a vida inteira no trabalho informal e não tem direito a nada. Vai morrer a mingua, sem estrutura nenhuma. Sem chance.

Que país é esse que pune seus cidadãos pagantes de impostos com péssimos serviços de saúde, saneamento básico, educação, lazer? Até quando, estes mesmos cidadãos votarão em políticos desonestos as custas de falsas promessas? Está na hora de acordar!

Espero que o processo de mudança aconteça a partir destas eleições. Nada vai acontecer de um dia para o outro, mas é necessário começar de alguma forma, em algum momento.

O país precisa de TRABALHO e não emprego. Há uma grande diferença entre os dois. Você sabe? Qual sua opinião sobre isso?

Beijos!!!

4 comentários:

Anônimo disse...

Sabe Flavinha... não gosto de pensar muito sobre essas coisas pq sempre me entristece muito... o problema não está basicamente nos políticos, mas sim nas PESSOAS. Isso mesmo, em nós! Quem vai pra política acaba se juntando aos que estão lá, e quem não vai, critica muito e vota por uma dentadura... é uma massa compressora da qual eu não vejo muita saída, infelizmente...
saudades dos seus posts...
beijos!

Anônimo disse...

A garota revolucionária! tah certo! Ensinar a pescar e não dar o peixe! Isso vale muito mais!
Está sim na hora de acordar, minha amiga! e Faz tempo!! Tapar o sol com a peneira até quando?? Excelente a reflexão que vc trouxe!

Também não pude deixar de notar o visual do seu blog. Ficou muito legal! Está clean.

Vida nova, blog novo!

bjim!

Anônimo disse...

Flávia,

O poema que escrevi: "Autobiografia do que eu não fui" pretende retratar exatamente esse tipo de pessoa que você descreveu. O difícil é entender que o escrevi em 1997 e, mais de vinte anos depois, nada mudou. Autobiografia... é um grito de quem vive na rua, esperando que algo mude, mas o quê?

Você tem razão quando fala dos políticos, mas em outubro vamos tentar fazer justiça com as próprias mãos: vamos votar.

Infelizmente nesse país de carnaval e futebol, nós não temos coragem o bastante, ou melhor, temos preguiça de irmos para as ruas protestar quando algo está errado. DEMOCRACIA é o poder emanado do povo, pelo povo e para o povo, que pena que isso só está no papel.

Enquanto isso somos obrigados a assistir a uma meia dúzia de infelizes emergentes com cartazes de CANSEI. Cansaram de quê?

Aguarde no blog a letra da música Classe média.

Beijos!
Alcides

Anônimo disse...

Eu sei como vc se sente, Flávia!!! Qdo eu e meus irmãos éramos pequenos, minha mãe levava a gente no Centro, nas férias, para comer no Mc Donald's! (não tinha shopping naquela época... a não ser o Center Norte, mas era longe pra gente...). Era o momento mais esperado do ano! Andar de metrô era uma experiência lúdica! A gente curtia tudo. Eu lembro da época que funcionava um Mappin alí. Os anos passaram e eu comecei a ter medo do Centro, pq todo mundo que ia pra lá ou trabalhava lá, era assaltado. Um tempo depois, trabalhei na praça Ramos de Azevedo, o que me fez aprender a gostar de lá e a saber me virar.Mas a gente perecebe que as pessoas que trabalham por lá, preferem se colocar indirefentes à realidade. É uma faca de dois gumes: por um lado é confortável estar indiferente pq vc não sofre com o que não pode mudar, por outro, vc se torna insensível com o tempo, pois vai ter medo das "crianças" de rua que tem mais malícia que muito adulto e além de perigosas e algumas vezes armadas, podem estar alteradas por algum tipo de droga.
Eu concordo qdo vc disse que precisamos de trabalho, é verdade. Mas não só isso... O outro pilar da estrutura é a educação. Ela que vai permitir que o indivídui crie uma consciência crítica e não se deixe levar pelas mentes enganadoras e ludibriadoras, inclusive dos políticos!